Joana Ferreira
meus berlindes...são madrugadas na algibeira
rabiscos toscos na tela do arquitecto
são o cinzento amanhecer escondido na neblina
a infância desarrumada na recordação da minha maturidade
são o meu pestanejar-borboleta, na viajem do que acredito ainda ser um olhar
(confesso-vos que por vezes desaprendo de olhar. outras vezes, esqueço-me dos olhos na poltrona da sala e lá vou eu a pestanejar o nada-vago. na rua, as órbitas olham-me incrédulas. que estúpidas preconceituosas!)
são a distração infinita do vazio que marulha ao ouvido do mar nocturno
concepções insanas do desgosto de me existir assim
sem gosto amargo, sem fel nem crueldade...almejo ser vil. ensinas-me?
descubro que apenas é constante o meu desencontrar-me
escrita mal concebida, embriagada de palavras soltas e sem sentido
apenas eu sei...apenas eu sei...amanhã não haverá sentimento, tudo se comprará.
ouviste, marina? ouviste?!!!
foi a onda da espuma que teu-me prometeu-te,
aquele fino rasgo em que ainda não é espuma mas também já não vive na onda,
apenas é um roçar leve, que regateia grãos da areia para completar o fundo do tempo.