Cai a noite e,
de novo no universo do meu quarto me refugio.
Sopra uma brisa leve
Beijando-me as entranhas da alma sem pressa.
Afogo-me num mar de lençóis
procurando mil respostas num travesseiro.
Reviro e revolto-me. Basta!
Meu dom é minha sina.
Sofregamente procuro uma folha ... um lápis.
Rabisco os meus sentimentos
carbonizados como o cigarro que expurgo
e sofro tão só nos versos que escrevo.
Procuro razões para a vida, as discrepâncias, as convergências.
Volta e meia sopro a cinza que cai na folha
Como se tentasse apagar os pensamentos das minhas insónias
E olho o escuro aonde ela se perde como o abismo do meu desassossego.
Bocejo. Deito-me e fecho os olhos. Mas novas ideias regurgitam em mim.
De novo o estirador se acende perdurando madrugada fora.
As ideias são confusas e tento ordená-las ao longo das linhas.
Repito o que escrevo, procurando a voz dos sentidos ... mas algo falta.
Revejo poemas antigos como retratos do passado
na esperança de encontrar o ardente engenho de outros tempos.
Sofro. Grito. Mas nada. Lagrimo na folha molhando-a de impotência.
Maldita inspiração que se perde na claridade.
Desisto! Hoje só consigo sentir no escuro
sem saber como o transcrever com luz.
Quem me dera saber escrever no escuro
aquilo que me está no obscuro da alma.