Domingo, 31 de Outubro de 2004
no quarto de uma pensão rasca, cubículo nauseabundo de outras histórias vagas, produzimos paixão sem palavra, sem gemidos. apenas a ferocidade dos corpos suados se impõe. a ternura dessa noite derramou suor, manchando os lençóis com um adeus anunciado.
da dicção de um silencioso fim - apenas os olhos falaram e, mesmo esses, apenas brilharam no escuro sem aceno - entrecruzamos somente um olhar conformado.
do afecto avassalador, quase inumano entre nós - porque somos apenas sôfregos amantes, animalescos na cópula - sobrou-me um coração fendido, impreciso. necessito urgentemente aramear o peito, protegê-lo das tuas incursões nocturnas que me desnorteiam - irracionalizam-me e abstêm-me da vida.
e a minha alma...? ai a minha alma, substância imaterial com sentimento de carne, com ossos envelhecidos e pensamentos exaustos - já quase inanimada e desacautelada, já a sucumbir suspensa pelo gargalo, prestes a ser enforcada por um cordel amarrado no teu dedo mindinho - sufoca, esperneia...obriguei-a a ausentar-se da fome de te amar.
no congénito imprevisto que é próprio do nada, como a tempestade que se inicia enraivecida e termina envergonhada, a pele silenciou-se e desarrepiou-se. tinha terminado o vértice do êxtase.
entre o quase adormecer no escuro, entre um cigarro incendiado e o olhar com um traço semi-aberto das pálpebras, ainda te vejo partir sem te ter escutado a voz ou qualquer impreciso rasgar da garganta, nem sequer um nome que te identificasse. nada. apenas a linguagem secular do corpo e o espernear do prazer indistinto, misturado com saliva do beijo, esse, o tal beijo, aturdido e desorientado a caminho da etapa seguinte. espero reencontrar-te nos movimentos de outro corpo, de outros braços.
por favor, apaga a luz quando saíres, essa claridade fere-me a recordação.
Sábado, 23 de Outubro de 2004
na noite, caminhos entrelaçados entre a madrugada e a aurora, diviso o rosto que me reparte e confunde o peito. abro-me em par, com mãos côncavas e espero a tua chegada. corrompes-me o coração arrepiado e em ti indivisto o sentimento. de um só toque, de um roçar balançado, adulteras-me os princípios, cerrilhas-me a mortalha em que se acha o meu corpo, mortalha que expurgo a nuvem nicotínica que me corroi o peito, arranha a traqueia e me alucina a cabeça, o pensamento, o nada, a tosse, o tudo, o óbvio, o correcto, a moral, o bem, o mal. desaguo onda de rio em riacho de mar - alago-o, preencho-o e adultero-o como a mim ( agora eu ?! ) em espuma rosa, branca, azul, verde, tosca, desarticulada, abrupta. a maré desse mar morreu do cheiro da maresia no balanço da minha onda, mas juro...juro que não são palavras congeminadas à toa. juro que te tinha no aluajar de uma onda espumosa numa praia de noite, mas esvoçaste-me das órbitas da retina, iludistete-me a imaginação e tudo que eram certezas...pufff!!!
à Luna, pela imagem
Domingo, 10 de Outubro de 2004
" E ainda foi noite, foi luar de ternura, mais-que-nada, mais-que-tudo, mais que
dúvida em plena certeza.
Sonho estilhaçado com o sabor acre de quem afunda a impotência no fundo de um copo ... ".
" Não adianta ser rico, usar roupas caras, se o melhor da vida a gente faz é nú ".
"O vencedor não é quem sabe mais, mas sim quem sabe o que poucos sabem."
" Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come."
Greenpeace