Terça-feira, 29 de Março de 2005
ficou-nos a ausência de um sorriso teu
mas sabemos a recordação que também se alojou nos nossos peitos
num dia em sexta de paixão esmoreceste no frio arrepio do abandono
sei que sonhas (pelo menos acho ver-te dormir)
acredito que acordarás do susto de um pesadelo num qualquer momento
no viajar do corpo com vazio de alma
ainda acreditei ter-te
sabia que a mim enganava para que me doesse menos
um relampejo de beijo no teu rosto frio dá-me a certeza do teu adeus sem aceno
perdi-te sem que te roubasse uma última palavra do suspiro
(confesso-te, preferi sonhar-te como sempre te tive)
contigo aprendi que somos frágeis
opulentes insensatos do fragmento em que nos tornaremos
é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã
porque se pararmos para pensar na verdade não há
sou uma gota de água, somos um grão de areia
que mais te poderia pedir senão o que me deste:
a paixão, as lágrimas, o beijo e o abraço na hora do choro
que mais te quereria senão ter-te no grito e no gingar
só agora senti: sinto tanto a tua falta!
Sei que num dia qualquer, numa qualquer rua de Lisboa
me farás um aceno com cheiro de céu
Epitáfio
Dedico-te este poema pelos momentos de angústia de mãe, de conforto no desnorte do meu choro, da urgência do teu abraço na hora da minha tristeza, do sonho que me ensinaste como sonhá-lo, do pesadelo em que te aprendi como enfrentá-lo. Oh, como acreditavas na vida, Tia Zinha...
acredito que num qualquer dia, numa qualquer rua de Lisboa far-me-ás um aceno com cheiro de céu.
Segunda-feira, 28 de Março de 2005
no enviusar da escuridão entrelaça-se uma nesga de um sol moribundo,
revolvendo as últimas lembranças do dia da vida num qualquer final.
esquecemos o prazer de ter tempo a perder,
perdendo a razão na pressa de um destino que desconhecemos
mas ambicionamos, sem saber bem porquê queremos o quê
sabíamo-nos nossos no egoísmo de nos termos,
sofríamos na angustia de nos afastarmos
em cada abraço matinal repintado de beijos.
espero o dia em que me dirás que já estamos distantes de tudo,
excepto do nosso próprio tempo, ali, sempre em frente
arruma-me os sentimentos mas não te esqueças
cada um na sua gaveta com o rótulo da vastidão aposto
quando saíres, por favor, deixa-me as chaves de casa
preciso cheirar cada uma das essências que povoam cada partícula tua
preciso aprender a entrelaçar uma nesga de sol no esguio enviusar da penumbra
Sexta-feira, 25 de Março de 2005
Tal qual todos os feriados religiosos cristãos, a Páscoa - celebração da paixão e da ressurreição de Cristo - também tem muitíssimos elementos pagãos. Essa foi a maneira inteligente que a Igreja encontrou no começo de seus tempos para "seduzir" fiéis, que relutavam em abandonar seus costumes antigos e aceitar práticas cristãs um tanto "sombrias" para eles.
Em português, Páscoa tem origem na palavra judaica Pessach, que significa transição. Mas em inglês o termo Easter - como nos conta o historiador Bede - mostra a clara proximidade com Eostre (ou Ostara), deusa anglo-saxã da luz cujo animal sagrado era uma... lebre. Diz-se que a mesma deusa é vista em algumas representações como tendo a cabeça do próprio animal.
Os espalhafatosos ritos em celebração a Eostre eram praticados durante o equinócio da primavera (celebrado em março no Hemisfério Norte), quando o dia e a noite tinham a mesma duração e época era tida como fecunda, assim como o coelho/lebre são símbolos da fertilidade.
A Igreja acrescentaria a este "balaio" outro antiqüíssimo símbolo de fertilidade e renascimento: o ovo, que já aparecia nas culturas romanas e gregas antes de constar em práticas judaicas do Seder. Considerado "carne" por algumas culturas, era proibido consumir ovos durante o período da Quaresma. Assim, voltar a comer ovos na Páscoa marcava o fim de privações e jejum.
Por volta do século XVI, o Coelhinho da Páscoa ressurgiria no imaginário cristão através de protestantes alemães, ou assim diz a teoria. Estes religiosos queriam reintroduzir ou manter o hábito de comer ovos coloridos na Páscoa, mas não queriam introduzir suas crianças aos jejuns e abstinências comuns da época. Assim, os pequenos que se comportasse podiam aguardar a chegada do Oschter-Haws, que deixaria ovos em ninhos feitos nos chapéus das crianças. Os ovos, a propósito, eram de galinha e fervidos. Os ovos de chocolate e coelhinhos comestíveis que conhecemos hoje só teriam surgido, segundo relatos, no século XIX, na Alemanha.
Do norte da Europa, os costume do Coelho da Páscoa chegou até os Estados Unidos no século XVIII. Imigrantes instalados na Pensilvânia contaram a suas crianças sobre o Oschter-Haws e tornaram popular no país o hábito de "caçar ovos" no domingo de Páscoa.
Atualmente, a Páscoa, como tantos outros feriados, tornou-se um evento não necessariamente religioso. Sendo assim, o Coelho da Páscoa e seus ovos de chocolate aparecem em lares de toda sorte de credo, de judeus a ateus, de cristão a neopagãos.
Votos de uma boa Páscoa