Terça-feira, 26 de Abril de 2005
By Marco Barsanti
No sexto andar, Enfermaria B
Mariazinha
Ao levar-te a sopa e almoçar contigo todos os dias, sentia-me a Mãe Olívia amamentando-te sem leite.
Quando o Fausto chegasse eu sentia-me a mãe mais feliz ao vosso lado.
Agora só vejo o Fausto e tu onde andas?
Hoje dia 25-04-05 lembrei-me que há um mês que estás sempre comigo. Desculpa-me minha querida irmã, não ligues. Esta tua mana velha já tem a mente queimada pela idade. Quanta saudade!
Dina
Assim me foi dada, a palavra escrita com dor da tua mana mais velha. Dor que ela sente por quem partiu prematuramente.
Ainda te dizemos adeus, Tia Zinha, como se ainda estivesses ali, prestes a cruzar a soleira de uma qualquer eternidade que sabemos sem retorno.
Ruy
Segunda-feira, 25 de Abril de 2005
By Marco Barsanti
Querida Mariazinha
Sei que não me ouves, sei que não me vês, mas a esperança de te voltar a ver e ouvir-te é uma realidade que a palavra de Deus promete.
As lágrimas nos nossos rostos ainda correm e, a lembrança de quando tinhas, 8, 9, 10 anos está sempre presente porque era eu que cuidava de ti, que te cortava o cabelo, e te vestia para ires para a escola....
Da mana velha
Dina
Nós temos cinco sentidos: são dois pares e meio d'asas.
David Mourão Ferreira
É essa crença de que alguns passam pela nossa vida deixando uma indelével e inolvidável marca, que nos faz acreditar serem anjos que coabitaram em nosso peito, lado à lado com o pulsar do coração. Essa certeza, faz com que a boa lembrança de quando eras "humana", amanse a nossa dor.
PS: Ontem, mesmo no atarefado do dia, vi o teu aceno com cheiro de céu.
Ruy
Quinta-feira, 21 de Abril de 2005
by Vincent Obyrne
quantas vezes relembrei-te em versos já esbatidos
escritos em guardanapos de papel
na mesa de um café qualquer?
quantas vezes procurei-te e no espelho não me encontro?
quantas vezes fui estranho em mim para mim mesmo
mesmo vivendo nas margens desta folha de papel
e num arrastar vagabundo
qual folha seca de outono
lentamente pousando no chão
ainda tento saber...
quantas vezes protestei mas com o tempo desisti,
sou proscrito neste amor
numa redoma me fechei
quantas palavras no tempo, à toa para o vento,
em ambígua esperança,
num futuro incerto mas de um presente confiante
quantos olhares cativantes
em relâmpagos de beijos-correio,
em caminhos sinuosos de abraços estonteantes
quanto de nosso corpo, nossa vida
dado por um princípio, um instante apenas,
que à qualquer custo as nossas gargantas gritam para atingir esse fim
(e revejo o álbum da minha)
quantas dúvidas e incertezas
quantas incursões às cegas,
nos caminhos nunca antes percorridos do teu corpo nú
quantas vezes renasci
nos orgasmos aflitos, numa cama perdida
de um quarto, só nosso por horas, à soleira deste mundo
e fito-me atado ao tempo
questionando o meu futuro-presente
que foi o meu passado...e recordo sorrindo
...o fumo nos pulmões de cigarros pensativos
com sentimentos afogados
em mais bebedeiras sem sentido
as telas na mente e as canções no peito,
a tinta jogada ao acaso em paredes de cal
mas que em nosso pensamento formava um quadro perfeito
as lágrimas ferventes caídas num chão de gelo,
os passos trémulos com medo do abismo,
o caos dos meus neurónios imaturos.
e numa despedida tácita,
novamente pergunto-me:
será que valeu à pena?
as vezes em que substutuímos baionetas por bouquetes de rosas vermelhas,
as vezes em que fizemos da guerra amor
sob lençóis bordados de paz?
as vezes em que entregamos os nossos corpos
à gélida chuva de inverno
em nome de algo louco, puro...único?
então porque te tenho na solidão da minha voz
ao pronunciar baixinho o teu nome,
no luto da minha dor, a existência da tua ausência?
amanheci o rosto sem reluzência, o que é próprio dos opacos notívagos
e no cristalizar de uma lágrima minha entre o côncavo de duas pétalas fingindo-se mãos,
senti que valeu a pena, tão só por aquele quase sentir de abraço me envolvendo a mágoa.
27/10/1995
Lisboa
03H40m
Domingo, 10 de Abril de 2005
A Brito
Arrependi-me de tantos nadas que assumi, de tantos até já que não disse
Arrependi-me de tantos nãos com sins, de tantos encostar de lábios aspirando beijos
Arrependi-me de tanto negar querendo
de tanto adormecer com sonho em sonho negado
Arrependi-me de arrepender-me de dizer-te que arrependi-me de querer-te
Arrependi-me querer-te azul,
acreditar seres céu quando no fundo sabia teres os olhos castanho-terra
e eu que não soube ter os pés na terra
!
Flutuei sem asas que me sustentassem
que imprudência foi não saber como parar,
como aprender a não te amar no limite do excesso
Arrependi-me sonhar-te frágil.
Aquela mesma fragilidade que me estilhaça as palavras
Arrependi-me de transportar uma caneta
Porque é que não se lhe esgotou a tinta?
Arrependo-me de te escrever este poema
É a fraqueza que aniquila a força que te mostrei existir em mim.
Arrependi-me de dizer que não foi bom, mesmo sabendo que o corpo se arrepiou.
Arrependi-me de te dizer que o amor ainda é jovem
quando sei que o coração envelhece com o mesmo amor, esse mesmo que ama na juventude.
O sentimento ainda lá mora, sabias? Então como não envelhecer com amor?
Arrependi-me das bebedeiras para esquecer.
Até porque ao final de todas elas, tive um despertar com a certeza
que tinham sido para que me lembrasse que eram com a intenção de te esquecer.
Então como esquecer-te?
Que imprudência foi amar-te tão desalmadamente, sem saber assumi-lo.
Que mal me faria assumi-lo!?
Talvez até te enfastiasse tanto amor, talvez!
Mas não! Preferi negar-te, mantendo-te minha no mais íntimo (também como poderias saber se sempre o neguei?)
Agora, porque será que te escrevo se sempre te pedi que me deixasses?
Ah, com quanta ligeireza propus-me confessar não te amar
Domingo, 3 de Abril de 2005
Não sou um crente católico nem professo qualquer outro tipo de ideologia religiosa.
Neste momento, pretendo apenas homenagear e, junto de todos os crentes, em especial os católicos, expressar o meu pesar pela perda de Karol Wojtyla enquanto líder da igreja católica. Isso pelo grande homem que foi e que perante o mundo demonstrou a sua força de querer, a sua crença de um mundo melhor, um mundo mais solidário, mais humanizado; pelo homem que teve a coragem de elevar a sua voz crítica contra o comunismo opressor mas também contra o capitalismo inumano; pelo seu esforço ecuménico de coexistência entre todas as religiões numa esperança de comunhão pacífica entre todas; pelo homem que deu uma prova rara de entrega, de carácter e de esperança que algo de melhor e originalmente humano ainda poderá ser recuperado, rebuscado ou apenas simplesmente descoberto em nós. Para esse homem, que em determinada altura foi Papa, um obrigado pelo que nós, humanidade, aprendemos e recebemos dele.
O Santo Padre
O Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis.
LUMEN GENTIUM, 23