Photo: Ruy de Carvalho Simões
Trata-se de um livro de contos sobre Angola, retratando uma realidade que eu próprio vivi, outras ouvidas, acrescentando-lhes, é certo, um inevitável tracejar de ficção e misticismo - até porque talvez não pudesse, não devesse e não quisesse fugir deste tentáculo intrínseco, em particular à cultura angolana, e em geral à cultura Bantu - , procurando retratar Etnias, zonas tribalizadas, subculturas, línguas que nos identificam como povo, níveis vários da língua portuguesa e civilizações tradicionais.
Um universo semântico cheio de tentações (e de riscos, é verdade), no intuito último de, simbólicamente, reunir essa diversidade nas mesmas fronteiras, fortificando a noção de que somos unos e indivisíveis.
De outro modo, o povo angolano, ao longo da sua curta e conturbada história, já deu provas de saber esquecer. Todavia, tal não significa ignorar. Essas histórias, agora compiladas em livro, pretendem consciencializar, recordando-nos "o quanto nos doeu o parto da paz".
Pretendi, no âmbito de uma prosa substantiva, de conotação aberta, enriquecida pela incorporação de novas palavras, estruturar uma linguagem transgressiva, ousando reinventar a língua portuguesa.
Como disse Manuel Ferreira, "esta vem sendo e continuará a ser a estrada maior dos prosadores angolanos: a criação de uma linguagem angolanizada".
Lançamento e apresentação: ... 23 de Setembro de 2006
Local: .............................................Feira do Livro da Amadora
Hora: ..............................................................................15H00m
Para adquirir o livro:
- Fnac do C. Comercial Colombo: € 14.00;
- Pelo Blog: € 11.50 + portes de envio (e-mail rfcsimoes@.hotmail.com)
Ruy de Nilo
É sempre numa terra. E sempre distante da minha realidade.
Apenas está apegada ao meu imaginário por histórias com velhice e sem tempo;
com muitos contos do conto das gentes…uma terra já com história adulta.
Nessa terra cacimbada, ainda tem cheiro dos meus passos, da minha pele.
Sempre a tenho a diambular-me no pensamento.
Tem a minha vida sentida com o peito. Tem-me descalço.
Tem a última radiografia do meu esvoaçar no ar
já calçado com os sonhos de dormir.
Tem o chuviscar infinito tracejado de feridas. Essa terra desconheceu a minha curvatura, mas espera por mim na gávea da espuma,
que se desembrulha no eterno abraço do mar com o meu chão.
Essa terra que me cabe no coração…à ela tenho uma ligação de filho.
Se ela sofre, eu sofro no calado do seu sofrimento. Ela escorre-me no respirar.
- Chegamos! Vês esta terra até ao infinito? È desta terra que vos falo.
Esta terra com casinhas vermelhas e pretas…aqui...do lado direito do mapa.
Esta é a minha terra . O que achas?...Dei-lhe o nome de "rosto da chuva".
Ruy de Nilo
11/08/2006
23h31m
(Casa)
o desfolhar da manhã fecunda a penumbra com a claridade.
sou entrelaçado pelos primeiros laços de sol,
que se espreguiçam no ar, tocando uma nuvem recém-nascida.
sei bem que no meu olhar ainda adormece a insónia,
mas tenho que imaginar-me desprovido de meia alma.
repito-me ao som da guitarra que me falta a tua voz,
que tenho medo de a esquecer pronunciar
(de que se me entorpeça…).
tenho medo que o sonho do susto, do ir dos teus passos,
possa ser verdade num agora e espaçar para sempre o meu roçar.
tenho medo de adormecer na inocência,
de sonhar suportar a imensidão da nossa voracidade,
e acordar na exactidão do espelho.
…descobrir que eu já não sou tu,
que a realidade mudou de direcção e escondeu o rosto,
tenho medo que num qualquer reconstruir do dia
(em que as minhas pálpebras insistem em vigília)
se apague uma luz no firmamento da escuridão.
tenho medo de não sonhar a tua despedida…de me despedir dela.
tenho medo de me desabituar da tua essência.
descobrir que está tudo acabado, que o sentimento dissecou.
descobrir que tão desmesuradamente nos apetecemos
que prematuramente nos esvaziamos de nós,
algures nas nossas trocas aflitas de almas.
descobrir que a verdade mudou de direcção e escondeu o rosto.
Ruy de Nilo
10/08/2006
07h22m (Casa)
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