Autor: Antonio Ramos
Tanto me almejei que abdiquei de uma paixão por um grande amor.
De tanto me alhear perdi a poesia.
Escorregou-me pelo furo da algibeira.
Talvez nas valetas por onde andei.
Talvez por tanto amor em tao pouco desamor. Do peito só um suspiro.
Descasquei-me de outra vida. Repeti-me em palavras.
Moldei-as entre os dentes.
Enrosquei-me, bem juntinho, ao pé do mundo.
Amadureci o rasto que me deixou o teu piscar de olhos.
Por tanto tempo andei em contramão em direcção a mim.
Nada foi tão verdadeiro como a paixão pela poesia e os poemas.
Nada é tão doloroso como a mímica das palavras.
A irreverência do súbito.
Nada é tão obstinado como a palavra que transparece a alma.
Que decalca o contorno.
Na paixão nada é tão abrupto como a busca.
Nada é mais longe que a quietude do silêncio.
Então de onde me vem tanta solidão?
Tanto de mim comigo que só existo eu em mim?
À cada sorriso, por viver um grande amor é com menos dor que me dou por paixão.
Já e tarde.
Os frangalhos de galhos gemem o vagaroso do vento, vacilando o gesto.
Será que é por dentro que me escrevo ou apenas me ausento lento?
Já me basta. É tua a madrugada que ameaça chuva.
É tua a lágrima que escorregou o rímel.
São teus os pedaços de tempo que envelheceram as palavras,
que enrugam os anos. Sou teu.
Serão teus os beijos que profiro nos versos.
Serão tuas as madrugadas que vigio.
Por quem mais vou tão longe?
Ruy de Nilo (RdN)
14.02.2012
00h45m
Zango
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