
A Brito
Arrependi-me de tantos nadas que assumi, de tantos até já que não disse
Arrependi-me de tantos nãos com sins, de tantos encostar de lábios aspirando beijos
Arrependi-me de tanto negar querendo
de tanto adormecer com sonho em sonho negado
Arrependi-me de arrepender-me de dizer-te que arrependi-me de querer-te
Arrependi-me querer-te azul,
acreditar seres céu quando no fundo sabia teres os olhos castanho-terra
e eu que não soube ter os pés na terra
!
Flutuei sem asas que me sustentassem
que imprudência foi não saber como parar,
como aprender a não te amar no limite do excesso
Arrependi-me sonhar-te frágil.
Aquela mesma fragilidade que me estilhaça as palavras
Arrependi-me de transportar uma caneta
Porque é que não se lhe esgotou a tinta?
Arrependo-me de te escrever este poema
É a fraqueza que aniquila a força que te mostrei existir em mim.
Arrependi-me de dizer que não foi bom, mesmo sabendo que o corpo se arrepiou.
Arrependi-me de te dizer que o amor ainda é jovem
quando sei que o coração envelhece com o mesmo amor, esse mesmo que ama na juventude.
O sentimento ainda lá mora, sabias? Então como não envelhecer com amor?
Arrependi-me das bebedeiras para esquecer.
Até porque ao final de todas elas, tive um despertar com a certeza
que tinham sido para que me lembrasse que eram com a intenção de te esquecer.
Então como esquecer-te?
Que imprudência foi amar-te tão desalmadamente, sem saber assumi-lo.
Que mal me faria assumi-lo!?
Talvez até te enfastiasse tanto amor, talvez!
Mas não! Preferi negar-te, mantendo-te minha no mais íntimo (também como poderias saber se sempre o neguei?)
Agora, porque será que te escrevo se sempre te pedi que me deixasses?
Ah, com quanta ligeireza propus-me confessar não te amar